quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Hippies" e a gente da galáxia de Salto...

São russos, alemães, canadianos, finlandeses, norte-americanos, letões, portugueses e de muitas mais nacionalidades, mas praticamente todos caucasianos. Como o sol já desapareceu, alguém subiu à colina, onde está espetada uma bandeira com as cores do arco-íris, e soprou numa concha para que todos se reunissem em dois círculos concêntricos de cerca de 100 pessoas e assim se pudesse iniciar a refeição comunitária.
“Gracias por la comida, gracias por la comida. Que me cura! Que me cura!”, entoam espanhóis. Fazem-no durante tanto tempo, sempre a cantarolar o mesmo mantra, que nem dá para perceber como é que conseguem ingerir a refeição, fortemente condimentada, composta de salada, sopa de batata e ervilhas e umas rodelas achatadas de pão. Água para beber e, com sorte, a terminar, um charro.
No final da espartana refeição, um grupo canta e toca viola para passear o “chapéu” pelo grande círculo. O chapéu é mágico “porque começa vazio e no final da roda deve estar cheio com as contribuições de todos, apesar de ninguém ter dinheiro”, explicam. Com ilusões como esta constrói-se, durante dois meses, um acampamento para mais de quatro mil pessoas. As poucas regras que o regem incluem a proibição de trazer aparelhos eléctricos, armas, drogas e álcool, de fazer negócio e de desrespeitar a natureza. Tudo é decidido por consenso e cada um faz o que quer, desde que não pise os outros. “As pessoas vêm aos Encontros Rainbow para se curarem. As energias positivas que geramos são também cura para o planeta”, acredita um homem de barbas brancas e chapéu de mago. E não há fonte mais poderosa do que a noite de lua cheia, que marca o final do acampamento.
A refeição terminou. A partir daqui temos de escolher: ou participamos, ou tornamo-nos extraterrestres, “voyeurs” de alegrias colectivas.
Os corpos começam a tremer movidos pelos tambores que inundam o recinto. Há gente suando, nua, a dançar temerosamente próximo da fogueira. Um outro grupo no escuro agita-se em danças africanas. Há fogo por todo o lado. Gente a cuspi-lo, equilibrando archotes, ou fazendo rodar bolas em labaredas presas por um fio. Passa uma rapariga de andas, um malabarista promete que também vai tentar jogar com a lua. Um clarinete junta-se aos tambores. “ É magia. É magia”, corre a gritar uma rapariga de cara pintada.
No meio de toda esta festa encontram-se alguns extraterrestres. Gente da galáxia de Salto e de outras aldeias próximas. “Estão a meter conversa” com algumas estrangeiras. “Não percebo o que é isto, mas está tudo muito mal organizado”, remata um deles, de mãos nos bolsos e olhos arregalados.
À solta pelo campo, passam tradições americanas, africanas, ciganas, celtas…”É como se pegássemos em todas as religiões e todas as filosofias do mundo e as metêssemos num shaker”, resume uma portuguesa, rendida aos encontros desta família planetária.

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